O escritor moçambicano Mia Couto foi distinguido com o Prémio Internacional de Literatura Neustadt 2014, atribuído de dois em dois anos pela Universidade de Oklahoma, no valor de 50 mil dólares.
O prémio, o mais prestigiado galardão literário internacional atribuído nos Estados Unidos a escritores de diferentes nacionalidades exclusivamente com base no mérito literário sendo por isso considerado o Nobel americano, é entregue desde 1970 e já distinguiu, entre outros, o brasileiro João Cabral de Melo Neto, Gabriel García Márquez, Álvaro Mutis, Octavio Paz e Giuseppe Ungaretti.
Mia Couto é o pseudónimo de António Emílio Leite Couto, de 58 anos, autor que já recebeu, entre outros, os prémios Camões, Eduardo Lourenço e o da União Latina de Literaturas Românicas.
O escritor moçambicano Mia Couto admitiu ter ficado alegre por ser distinguido com o Prémio Internacional de Literatura Neustadt, alegando tratar-se de uma espécie de "contracorrente" face à situação no país e às "ameaças à sua família".
A distinção com aquele que é considerado o prémio Nobel norte-americano “coincide com um momento conturbado e de preocupação em Moçambique e, em particular, da minha família, que também foi objeto de ameaças”, informou o escritor à agência Lusa, lembrando a “situação crispada no país devido à possibilidade de reacendimento da guerra”.
Nas cidades “há uma situação de tensão grande causada pelas ameaças de raptos, sequestros e violência”, referiu Mia Couto, que, por ser uma “espécie de contracorrente”, admitiu a alegria de receber uma distinção.
Em declarações à agência Lusa, Mia Couto quis dedicar, em primeiro lugar, o prémio à sua família, que apelidou de “primeira nação”. “E depois a Moçambique, por todas as razões, mas agora ainda mais, porque temos de ficar mais juntos nessa busca por opções de paz, por alternativas de desenvolvimento”, disse.
Mia Couto assinalou a importância deste prémio ser entregue a um escritor de língua portuguesa para “despertar interesse e atenção” para outros idiomas que não o inglês.
O moçambicano não deixou de se afirmar surpreendido por ser escolhido pelo júri do Prémio Neustadt, dado o valor que reconhece aos outros candidatos.
A lista de nomeados para o prémio da Bienal Internacional de Literatura Neustadt integrava o escritor argentino César Aira, a vietnamita Duong Thu Huong, o ucraniano Ilya Kaminsky, o japonês Haruki Murakami, o norte-americano Edward P. Jones, o sul-coreano Chang-rae Lee, o palestiniano Ghassan Zaqtan e Edouard Maunick, das Ilhas Maurícias.