Estações de comboio de Lisboa e Porto foram escolhidas pelo grupo editorial Leya para a fase experimental de instalação de máquinas de venda automática. Muitos passam e nem reparam, mas há sempre quem compre.
Ainda que se passe a passo apressado, em cima da hora para apanhar o comboio, há sempre quem repare numa máquina que ali está para servir... livros. Sim, livros.
A ideia partiu do grupo editorial Leya, que colocou dispositivos de venda automática em estações da CP do Porto e de Lisboa. Há a hipótese de se alargar a oferta às redes de metro e até aos aeroportos.
Que tal fazer a viagem com “O delfim”, de José Cardoso Pires, ou levando “O gato malhado e a andorinha Sinhá”, escrito por Jorge Amado? Estes são apenas alguns dos livros disponíveis na estação de Campanhã, no Porto, uma das três abrangidas pela fase experimental da iniciativa. As outras são as de Santa Apolónia e Sete Rios, ambas em Lisboa.
Era precisamente para a capital que Maria Amélia Ameixoeira ia apanhar o comboio, a meio da tarde de ontem. Depois de já muito ter reparado no escaparate, teve finalmente tempo para comprar um livro. A troco de 7,5 euros, levou “Curar o stress, a ansiedade e a depressão sem medicamentos nem psicanálise”, da autoria do médico francês David Servan-Schreiber. A razão da escolha foi assim explicada: “Foi deliberado, porque a minha actividade profissional é extremamente exigente. Tenho de lidar com altos níveis, quer pela exigência quer pelos prazos”. Profissão: juíza-desembargadora.
Apesar de ter sempre jornais e revistas para ler nas longas três horas que separam as duas cidades, a magistrada não enjeita o recurso ao livro, “porque é uma forma de rentabilizar o tempo”. É que os processos, esses, vão quietinhos na mala, aos seus pés. Nem pensar em adiantar trabalho no comboio, “por uma questão de resguardo da privacidade das partes”, afirma.
Tendo o Algarve como destino, quem também levava a mala cheia era Sandro Martins. Advogado que em breve fará o exame de acesso ao Centro de Estudos Judiciários, Sandro anda sempre com livros técnicos mas ainda não tinha reparado na máquina. E logo deu uma justificação: “As pessoas passam depressa. Se estivesse na sala de espera, se calhar fazia mais sentido”.
É que a máquina de Campanhã está junto a uma outra, que vende chocolates, sandes e bebidas, e por isso passa despercebida. Mesmo assim, e segundo dados fornecidos pelo gabinete de Comunicação da Leya, cada um dos três dispositivos existentes vende uma média de 80 a 100 livros por mês.
Marco Almeida é estudante de Ciências Aeronáuticas e não recorre ao “vending” porque não têm livros técnicos. Também André Pata, professor, opta “por outro tipo de leitura” que não a que é posta à disposição do viajante. Contudo, concorda com a ideia, “porque a viagem permite um ganho cultural”.
A venda automática começou em Outubro e está em estudo uma proposta para aumentar o número de máquinas. Mas isso dependerá das conclusões acerca do período experimental, que só termina em Abril.
Artigo da autoria de Isabel Peixoto, publicado no Jornal de Notícias, no dia 26 de Março.